Quase um adeus á vida

Meus pés estão cansados. Foi uma longa caminhada.
Eu estive fora de mim pelas últimas cinco horas. Os efeitos da droga passaram, eu quero mais e a essa hora, a essa altura da situação, é o crime ou a prostituição.
Eu andei tanto, mas tanto, que eu estive quinze quilômetros longe de casa sem perceber. Procurando cantos, brechas, fendas, no espaço e no tempo, pra me esconder de mim mesmo e de todo o resto.
Pra me refugiar nesse meu amorzinho de poucas gramas, pra me inspirar no formato curvado da chama que aquece meus sonhos gostosos, vermelho e azul, vermelho e azul, tudo bom e gostoso, até a hora em que surge essa ventania e varre tudo, me tira tudo. É adeus ao zunido no meu ouvido, adeus ao sentimento de atemporalidade, adeus ao poder, ao desejo, à Cidade Eterna, aos amigos da rua, aos mosquitos, cachorros, gatos, fezes... Quase um adeus à vida.
Quase...Poderia ter sido um adeus à vida. A essa vida infame, cheia de devaneios. 
Poderia ter sido um adeus a esse mundo, que a cada dia se defrauda mais e mais.
Esse mundo que brinca de fazer política, de fazer sustentabilidade. Esse mundo que confundi competência com caridade. Esse mundo que ama defraudar, que ama ser defraudador. E o pior, que ama a auto defraudação!

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